de Ernesto Rodrigues
A minha pátria é a lingoagem portugueza.
Este romance é um caminho de ascese – em que a personagem do gramático procura o caminho para sair do seu próprio inferno de dúvidas; em que o leitor se eleva à perfeição das palavras, contempla a filigrana das frases. No chão duro e pedregoso deste caminho acham conforto os pés que procuram a claridade das alturas.
Na invocação ficcionada do passado, em palavras que se recusam estar caladas e fórmulas que não querem morrer, ressoa a fala de homens e mulheres que, do lado de lá das lajes, beijam os pés de quem entra nas antigas catedrais e falam com vozes de pedra: reis, princesas, bispos e cavaleiros que, mesmo para além da morte, continuam a não ser humildes. Belas frases bordadas a ouro, ditas pelo primeiro gramático português, talvez sejam como as roupas de seda com que aqueles reis e cavaleiros e bispos e princesas queriam chegar à presença de Deus, reclamando distinção.
A linguagem deste romance é tão clara que deslumbra, tão precisa e afiada que nos pode magoar. É um deleite para aqueles que conhecem bem a língua. É um desafio e um renascimento para os que estão a aperfeiçoá-la. É precisa alguma coragem para encontrar alguns dos seus caminhos, como o era para atravessar as ruas ambíguas e imaginativas das cidades medievais. Ela sobe como o fumo dos batismos de fogo no largo de S. Domingos e deixa-se levar até ao Tejo e escoar-se com a maré vazante em direção ao mar.
Ernesto Rodrigues, professor de Literatura e tradutor de húngaro, publicou, desde 1980, várias obras de poesia, ficção, ensaio e outros géneros.
Principais obras: Várias Bulhas e Algumas Vítimas, novela, 1980; A Flor e a Morte, contos e novelas, 1983; Sobre o Danúbio, poesia, 1985; A Serpente de Bronze, romance, 1989; Torre de Dona Chama, romance, 1994; Histórias para Acordar, contos para a infância, 1996; Sobre o Danúbio / A Duna Partján, poesia e ficção, 1996; Pátria Breve, miscelânea, 2001; Antologia da Poesia Húngara, 2002. Na crítica e ensaio, seleccionamos: Mágico Folhetim. Literatura e Jornalismo em Portugal, 1998; Cultura Literária Oitocentista, 1999; Verso e Prosa de Novecentos, 2000; Visão dos Tempos. Os Óculos na Cultura Portuguesa, 2000; Crónica Jornalística. Século XIX, 2004; «O Século» de Lopes de Mendonça. O Primeiro Jornal Socialista, 2008; A Corte Luso-Brasileira no Jornalismo Português (1807-1821), 2008; 5 de Outubro – Uma Reconstituição, 2010. Responsável pelos 3 volumes de Actualização (Literatura Portuguesa e Estilística Literária) do Dicionário de Literatura dirigido por Jacinto do Prado Coelho (2002-2003), editou, entre outros, Padre António Vieira, Alexandre Herculano, Camilo Castelo Branco, Júlio Dinis, Ramalho Ortigão, Trindade Coelho, José Marmelo e Silva, António José Saraiva.
Fonte das informações sobre o autor: http://www.gradiva.pt/?q=C/BOOKSSHOW/6697
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