Gaveta de papéis,
Poesia de José Luís Peixoto
Foto: institutoportuguesdecultura.blogspot.com
José Luís Peixoto começou a cintilar há poucos anos no universo dos escritores portugueses. Encontramo-lo frequentemente nas estantes das livrarias, rindo tristemente da vida e do tempo nas páginas simultaneamente dolorosas e esperançosas dos seus romances; ouvimos as suas palavras na boca de Jorge Palma; recitamos os seus versos na paragem de autocarro...
O nosso livro do mês é o seu Gaveta de papéis, originalmente editado em 2008 pela Quetzal. Este livrinho parece mesmo o conteúdo de uma gaveta de papéis... terão de o folhear para perceber porquê. A sua poesia vai para lá dos modelos clássicos (ou mesmo pós-modernos) com que contactamos na escola. Têm um sabor exótico que nos pede para alargar o horizonte dos paladares da nossa mente poética.
Aqui vai um dos trabalhos que o autor nos apresenta:
Chovem pais e filhos sobre os campos,
Terrenos de árvores húmidas, outono.
Os pais tentam sempre proteger os filhos,
essa é a natureza que corre nas árvores,
essa é a lei e esse é o sentido. É outono,
e não poderia ser outra estação, começou
o frio e a fome, olho a força dos campos
pela janela submersa deste último outono
e compreendo por fim a minha idade:
chovem pais e filhos de mãos dadas.
Lá longe, sou pai. Lá longe, sou filho.
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