Os profetas
Alice
Vieira
Caminho, 2011
«No ano de 1533, sendo rei D. João III, vivia na
ilha de Porto Santo um homem chamado Fernão Nunes, por todos chamado Fernão
Bravo. Na mesma ilha vivia uma sobrinha sua, moça de dezasseis ou dezassete
anos, chamada Filipa Nunes, que estava havia muitos anos na cama.
Dizendo-se inspirados pelo Espírito Santo, tio e
sobrinha declararam-se profetas. A sua pregação convenceu pobres e ricos, que
renunciavam às suas vestes preciosas e partilhavam os alimentos, e até eclesiásticos,
que na missa evocavam “São Pedro e São Paulo e o beato profeta Fernando”.
A heresia não podia ser tolerada. Após dezoito
dias de “abusões” dos falsos profetas, os profetas foram presos e levados para
a vila de Machico, sendo depois enviados para Évora. Fernão e Filipa foram aí
expostos à porta da Sé, ela vestida, ele nu da cintura para cima, com um
letreiro dizendo “profeta de Porto Santo”.
(…) Com base neste facto histórico, Alice Vieira
recria de forma vívida os antecedentes e os dias exaltantes da pregação, os tormentos
e as mortes infligidos pelas autoridades, e ainda a vida na Lisboa
quinhentista, cidade cosmopolita e bela, mas sobre a qual se adensam as nuvens
da Inquisição e do desastre nacional (…).»
Licenciada em Literaturas
Germânicas pela Universidade de Lisboa.
A partir de 1969
dedicou-se ao jornalismo profissional. Recebeu alguns prémios de literatura
infantil e, em 1994, o Grande Prémio Gulbenkian pelo conjunto da sua obra.
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